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Primeiro-ministro da Etiópia aposta na continuidade

4 de janeiro de 2013

O primeiro-ministro etíope, Hailemariam Desalegn, tomou posse há 100 dias. Mas a linha política do Governo não mudou muito desde os tempos de Meles Zenawi, dizem os críticos.

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Foto: CC-BY-SA- World Economic Forum

Quando Hailemariam Desalegn assumiu o cargo de primeiro-ministro da Etiópia em meados de setembro de 2012, após a morte do seu predecessor Meles Zenawi, os observadores consideraram o engenheiro e político moderado uma solução de compromisso para este país de etnias múltiplas.

Muitos etíopes esperavam uma maior abertura da política a conceitos como a liberdade de opinião e o fim da opressão da sociedade civil e dos meios de comunicação social.

O início pareceu promissor: poucos dias antes da ajuramentação do novo primeiro-ministro, o Governo da Etiópia amnistiou 2000 prisioneiros políticos por ocasião das celebrações do Ano Novo etíope.

Ao mesmo tempo, iniciou negociações no Quénia com a Frente de Libertação Nacional do Ogaden (ONLF, na sigla em inglês), considerada oficialmente um grupo terrorista. Quando o novo primeiro-ministro Hailemariam anunciou também a possibilidade de negociações de paz com o arqui-inimigo, a Eritreia, o desejo de muitos etíopes de um futuro mais pacífico parecia prestes a tornar-se realidade.

Nomeação de Hailemariam Desalegn surpreendeu a oposição
Nomeação de Hailemariam Desalegn surpreendeu a oposiçãoFoto: DW

Os etíopes depositaram muitas esperanças no engenheiro de 47 anos, pai de três filhas e membro da pequena etnia Wolaita. Hailemariam Desalegn parecia, pois, cumprir os critérios para um compromisso viável no meio da luta pelo poder político e económico entre os grandes grupos étnicos dos Amhara, Oromo e Tigreses.

"A presença de alguém de uma pequeno grupo populacional como os Wolaita, que não pertencem tradicionalmente à elite no poder, é simbolicamente importante", diz Jason Mosley, especialista em assuntos etíopes do instituto de investigação Chatham House em Londres. "Mas é evidente que também tem que funcionar na prática."

Mudança na continuidade

Para o político da oposição, Wondemagegn Demeke, do Partido da Unidade de Toda a Etiópia (AEUP), a nomeação deste chefe de Governo é única na história do país, pois ele não participou na luta armada pela independência.

"Surpreendeu-nos a todos", diz. "Estávamos preocupados que a sucessão ancorada na Constituição fosse violada. No entanto, o facto de ter demorado tanto tempo para nomear um novo ministro dos Negócios Estrangeiros, por exemplo, prova que o Governo é praticamente dirigido pela coligação governamental EPRDF (Frente Democrática Revolucionária do Povo Etíope)."

Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, e primeiro-ministro etíope conversam sobre o Sudão do Sul
Presidente do Sudão, Omar al-Bashir e primeiro-ministro etíope conversam sobre o Sudão do SulFoto: Reuters

Wondemagegn Demeke lamenta que não tenha havido uma mudança do curso político desde que o novo primeiro-ministro tomou posse. Jason Mosley, da Chatham House, tem uma opinião semelhante:

"No fundo a política não mudou grandemente", reconhece. "Há pouco tempo houve uma pequena remodelação do Gabinete, mas não considero que essa seja uma mudança relevante do curso político."

Também a política em relação à vizinha Somália, ou ao Sudão e ao Egito, no que toca à gestão dos recursos hídricos, não mudou, diz. "Resta saber se vai haver alguma alteração da política em relação à Eritreia. Parece que o Governo aposta mais na continuidade".

Desilusão internacional

Também os parceiros internacionais da Etiópia perderam um pouco da esperança que depositaram em Hailemariam.

Antigo primeiro-ministro etíope, Meles Zenawi, e ex-líder da Frente de Libertação do Povo do Tigré
Antigo primeiro-ministro etíope, Meles Zenawi, e antigo líder da Frente de Libertação do Povo do TigréFoto: picture-alliance/dpa

Quase todos os dias diplomatas ocidentais observam processos judiciais contra jornalistas. Dos 11 jornalistas independentes condenados na base de uma lei antiterrorista ultradraconiana, seis ainda se encontravam na prisão no final de 2012, entre os quais o premiado blogger Eskinder Nega, de acordo com o Comité de Proteção de Jornalistas.

Neste momento, decorrem processos contra 29 jornalistas muçulmanos, líderes espirituais e ativistas, que há semanas provocam os protestos maciços dos muçulmanos etíopes.

No final de 2012, 16 deputados do Parlamento europeu enviaram uma carta aberta a Hailemariam para que respeite a liberdade de opinião.

Mas 100 dias após a tomada de posse, os observadores receiam que o novo homem forte no Corno de África afinal pretende cumprir à letra a promessa dada de continuar a política do seu predecessor Meles Zenawi, que governou o país com mão de ferro durante 21 anos.

Autor: Ludger Schadomsky / Cristina Krippahl
Edição: Guilherme Correia da Silva / António Rocha

Primeiro-ministro da Etiópia aposta na continuidade