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Acnur registra recorde de refugiados no mundo em 2014

Marcio Pessôa18 de junho de 2015

O número de deslocados em todo o mundo teve em 2014 o maior aumento já registrado em um único ano, segundo relatório da ONU. Turquia, Paquistão, Líbano, Irã, Etiópia e Jordânia são os países que mais recebem refugiados.

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Palestinos e sírios deixam o campo de refugiados de Yarmuk, na Síria, para fugir dos terroristas do "Estado Islâmico"Foto: picture-alliance/dpa

O número de pessoas obrigadas a deixar as suas casas atingiu nível recorde em 2014. Conforme o relatório "Tendências Globais", do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), o deslocamento global provocado por guerras, conflitos e perseguições atingiu 59,5 milhões de pessoas no final do ano passado – contra 51,2 milhões registrados em 2013. Há dez anos, o número era de 37,5 milhões.

O crescimento de 8,3 milhões de pessoas desde 2013 é o maior já registrado em um único ano, e o documento do Acnur alerta para uma tendência de aceleração rápida deste fenômeno. Com exceção de Quênia, Egito e Indonésia, os 10 maiores escritórios do Acnur registraram aumento de pedido de asilo de 2012 a 2014.

O Alto Comissário da ONU para Refugiados, António Guterres, criticou a abordagem da comunidade internacional para o fenômeno. "De um lado, há mais e mais impunidade para os conflitos que se iniciam, de outro, há uma absoluta inabilidade da comunidade internacional em trabalhar unida para encerrar as guerras e construir uma paz perseverante", declara Guterres no relatório.

Em 2014, uma média de 42,5 mil pessoas por dia se tornaram refugiadas, requerentes de asilo ou deslocadas internas – o quádruplo do registrado há apenas quatro anos. Segundo o relatório, uma em cada 122 pessoas no mundo é afetada. Nos últimos 20 anos, 18,2 milhões de pessoas retornaram a seus países de origem.

O Acnur destaca que, nos últimos cinco anos, pelo menos 15 conflitos se iniciaram ou foram retomados: oito na África, três no Oriente Médio, um na Europa, e três na Ásia. Tal fator contribui fundamentalmente para o aumento do número de refugiados. Em 2014, apenas 126,8 mil refugiados conseguiram retornar para seus países de origem – o menor número em 31 anos.

Campo de refugiados em Camarões
Campo de refugiados em CamarõesFoto: DW/M.-E. Kindzeka

A tendência de crescimento no número de refugiados tem sido verificada desde 2011, com a guerra na Síria. Para o Acnur este conflito se tornou "o maior evento individual causador de deslocamento no mundo". O organismo da ONU diz que o fenômeno gerou nos últimos anos uma "nação de deslocados", com população equivalente à da Itália ou do Reino Unido.

Crianças são as mais atingidas

A edição deste ano do "Tendências Globais" mostra que metade dos refugiados no mundo são crianças e jovens de até 18 anos. Conforme o documento, foram contabilizados 19,5 milhões de refugiados menores de idade em todo mundo (acima dos 16,7 milhões de 2013), além de 38,2 milhões de deslocados dentro de seus próprios países (contra 33,3 milhões em 2013) e 1,8 milhão de requerentes de asilo (em comparação com 1,2 milhão em 2013).

Num comunicado divulgado à imprensa, Guterres critica a falta de financiamento e falhas no regime global de proteção às vítimas. "Para uma época de deslocamento massivo sem precedentes, necessitamos de uma resposta humanitária também sem precedentes", disse o Alto Comissário.

Atualmente, a Síria tem a maior população de deslocados internos – 7,6 milhões – e é o principal país de origem de refugiados – 3,88 milhões ao final de 2014. O Afeganistão e a Somália vêm em seguida, sendo os países de origem de 2,59 milhões e 1,1 milhão de refugiados, respectivamente.

O relatório aponta que 86% dos refugiados estão em regiões consideradas economicamente menos desenvolvidas. Turquia, Paquistão, Líbano, Irã, Etiópia e Jordânia são os países que mais recebem refugiados no mundo.

Aumento contínuo nas Américas

Nas Américas houve crescimento em 5% no deslocamento forçado, atingindo 769 mil pessoas. O Brasil abriga, conforme o relatório, 7.490 refugiados e tem 11.216 pedidos de asilo pendentes. Outras 29 mil pessoas são motivo de preocupação para o Acnur no território brasileiro, totalizando 47.946 mil pessoas afetadas.

A Colômbia continua abrigando uma das maiores populações de deslocados internos no mundo, com cerca de 6 milhões de pessoas reportadas até o final de 2014. Só no ano passado 137 mil colombianos foram deslocados.

Os Estados Unidos receberam, em 2014, 36,8 mil pedidos de refúgio a mais do que o registrado em 2013 – um aumento de 44%. O relatório conclui que isto se deve, entre outros fatores, à violência de gangues urbanas na América Central.

Europa tem maior crescimento

Refugiados no Iraque
Refugiados no IraqueFoto: Reuters

A Europa apresentou crescimento de 51% no número de deslocados. Foram 6,7 milhões de refugiados registrados no final de 2014 contra 4,4 milhões no ano anterior. Para o Acnur, a intensificação do fenômeno no continente se deve ao conflito na Ucrânia, à travessia recorde do Mediterrâneo – que chegou a 219 mil pessoas – e ao grande número de refugiados sírios na Turquia.

A Suécia e a Alemanha são os países europeus que receberam a maioria das solicitações de asilo. Quase 25% da população refugiada na Europa em 2014 é composta por sírios na Turquia.

De acordo com o texto, a região do Oriente Médio e do Norte da África teve crescimento de 19%. A guerra na Síria tornou o Oriente Médio a principal região de origem e recebimento de populações deslocadas por conflitos e perseguições.

Um dos principais exemplos é o Iraque, que sofre uma nova onda de deslocamentos internos devido às ações da milícia terrorista "Estado Islâmico". De acordo com o relatorio, 2,6 milhões de pessoas foram atingidas em 2014.

A África Subsaariana (excluindo a Nigéria, que teve critérios específicos de análise) verificou crescimento de 17%. No total, a região tem 3,7 milhões de refugiados e 11,4 milhões de deslocados internos. A África do Sul se destaca como o país nesta região que mais recebe pedidos de asilo.

Na Ásia o número de deslocados aumentou em 31% em 2014, chegando a 9 milhões de pessoas.