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Uma eleição sem vencedores na Colômbia

Thofern Uta
Uta Thofern
18 de junho de 2018

Colombianos votaram contra o processo de paz mais uma vez, elegendo um populista de direita, embora sem poder. Resultado paradoxal denota um país dilacerado, opina Uta Thofern, chefe do Departamento América Latina da DW.

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Ivan Duque celebra sua eleição à presidência da Colômbia em 17/06/2018
Eleito novo presidente da Colômbia, Ivan Duque terá difícil tarefa de equilibrar interessesFoto: Getty Images/AFP/P. Arboleda

Apenas uma coisa está clara: Ivan Duque terá terríveis dificuldades como presidente colombiano. O francamente simpático advogado sem experiência política chegou ao poder na chapa de um linha-dura. Sem o apoio do ex-presidente Álvaro Uribe, Duque teria continuado um desconhecido.

Agora, é o amável populista que mora ao lado que terá de governar e cumprir suas promessas de campanha: "rasgar" o acordo de paz, combater o plantio de coca com mão de ferro, fortalecer os "valores tradicionais da família" e, obviamente, fazer avançar a economia.

Nada disso funcionará como num passe de mágica. Duque não possui maioria no Congresso, e a Colômbia não é mais o país que Uribe certa vez governou. O resultado eleitoral mostrou muito nitidamente que posições de esquerda ainda não são capazes de obter maioria, mas pelo menos se tornara socialmente aceitáveis num país tradicionalmente conservador: o candidato adversário de Duque, o populista de esquerda Gustavo Petro, conquistou um resultado surpreendentemente bom, com mais de 40% dos votos.

A ironia histórica é que foi precisamente o ponto forte de Petro que deu a vitória a Duque. Se a eleição tivesse sido disputada por um candidato mais moderado, os eleitores tradicionais do centro provavelmente teriam votado contra o populista de direita.

Mas assim, no melhor dos casos, Duque será um presidente com apoio cambaleante no Congresso e enfrentará uma forte oposição e uma sociedade mais autoconfiante – além de uma comunidade internacional que apoia o acordo de paz. Ele terá que fazer concessões.

As conquistas do processo de paz são grandes demais: a Colômbia se tornou mais segura e mais aberta. Um país que não é mais uma "no go area", ele voltou a atuar no palco internacional, o que é interessante para investidores estrangeiros, com uma sociedade civil que tomou consciência de seus direitos e que não se deixará reprimir sem resistência por estruturas patriarcais.

O processo de paz não dividiu o país. Apenas demonstrou onde estão os verdadeiros problemas: na desigualdade social, ainda incrivelmente enorme; nas estruturas parcialmente feudais e nas noções sociais pré-modernas. Ele deu voz a quem nunca tivera representação política. O fato de as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) terem posado como representantes dos interesses desses indivíduos descreditou qualquer progresso social por anos a fio. Isso acabou, e não pode mais mudar.

Ivan Duque é considerado inteligente e flexível. Ele não vai querer impelir a guerrilha de volta para a clandestinidade. Ele deve saber que uma vitória militar é uma ilusão. E, já na noite da eleição, o novo presidente também já soava bem diferente do que durante a campanha: ele afirmou não mais querer "rasgar" o acordo de paz, mas sim garantir que "a paz chegue a toda parte". Para isso, disse, sua primeira tarefa será trabalhar na implementação do acordo – de fato, até hoje altamente incompleta –, oferecer uma perspectiva à população das antigas regiões de guerrilha e impedir novos conflitos sociais.

No entanto grande parte de seu eleitorado espera que ele modifique o pacto e, sobretudo, imponha punições mais duras à liderança da guerrilha. Ao mesmo tempo, Duque depende do apoio de Uribe e seu partido. Por outro lado, alguém já conseguiu se livrar de uma situação similar: Juan Manuel Santos, presidente em exercício da Colômbia e vencedor do Prêmio Nobel da Paz.

A eleição deste domingo (17/06) não tem vencedor. Ivan Duque tem um delicado número de equilibrismo a enfrentar, se quiser assegurar que não haja apenas perdedores.

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Thofern Uta
Uta Thofern Chefe do Departamento América Latina. Democracia, Estado de direito e direitos humanos são seu foco.