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Pela 1ª vez, Cuba pede à ONU envio urgente de alimentos

28 de fevereiro de 2024

Ilha socialista pediu ajuda ao Programa Mundial de Alimentos por "dificuldades para distribuir leite subvencionado" a crianças. Faltam alimentos no país, e preços na rede privada são inacessíveis.

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Fila em frente a armazém de venda de alimentos em Havana
Fila em frente a armazém de venda de alimentos em Havana: cena comum em CubaFoto: Yamil Lage/AFP

O governo de Cuba pediu pela primeira vez ajuda ao Programa Mundial de Alimentos (PMA), devido às dificuldades que enfrenta para distribuir leite a crianças menores de sete anos, confirmou hoje a agência da Organização das Nações Unidas (ONU) ao reconhecer a "necessidade urgente" e anunciar o envio de 144 toneladas de leite em pó à ilha socialista.

"Confirmamos que o Programa Mundial de Alimentos recebeu uma comunicação oficial do governo [cubano] solicitando apoio para continuar a entrega mensal de um quilo de leite destinado a meninas e meninos menores de sete anos em todo o país", consta de um comunicado da delegação do PMA em Cuba.

Segundo o órgão especializado em "emergências" alimentares, a "profunda crise econômica que Cuba enfrenta" está comprometendo "significativamente a segurança alimentar e nutricional da população".

Até então, apesar de a escassez de leite ter sido reconhecida pelo governo cubano e o PMA ter projetos na ilha há algum tempo, a solicitação era desconhecida. 

Segundo a agência de notícias EFE, o Ministério do Comércio Exterior e Investimento Estrangeiro (Mincex) enviou a carta à direção executiva do PMA em Roma no fim de 2023.

Segundo o PMA, o pedido de apoio não menciona um período de tempo limitado, por isso o órgão está tentando "mobilizar recursos adicionais" de "doadores tradicionais e não tradicionais". Dois países, um europeu e um americano, teriam sido contatados e estariam analisando o caso.

O PMA afirma ter entregado, em fevereiro deste ano, "144 toneladas de leite em pó desnatado", beneficiando quase 48 mil crianças com idade entre sete meses e três anos em Pinar del Río e Havana – o que representa 6% dos menores aos quais o governo pretende entregar leite subsidiado.

Escassez de alimentos e preços inacessíveis na rede privada

Cuba lida com a falta de leite há anos, embora, em geral, crianças de até 7 anos e pessoas com dietas especiais tivessem uma cota mensal disponível a um preço subsidiado de 2,5 pesos por quilo, ou cerca de R$ 0,52.

A escassez do alimento, porém, tem piorado nos últimos meses. Algumas províncias reduziram a população priorizada ou as quantidades entregues, enquanto outras começaram a distribuir bebidas enriquecidas como substituto.

Ainda assim, em Cuba é possível encontrar leite líquido e em pó em algumas empresas do incipiente setor privado, mas a preços inacessíveis para a maioria dos cubanos: entre 1.500 e 2 mil pesos cubanos o quilo (R$ 311 a R$ 415), sendo que a renda média do país é de 4.200 pesos cubanos (R$ 871).

A ministra do Comércio Interno Betsy Díaz Velázquez admitiu no início de fevereiro que a produção nacional de leite é insuficiente e que o país tem tido problemas para importar a quantidade necessária de "mais de 2 mil toneladas" mensais.

Pandemia, sanções e gerenciamento econômico aprofundaram crise

A situação econômica em Cuba se agravou desde a pandemia, também devido às sanções econômicas dos Estados Unidos e a decisões internas de política macroeconômica, comercial e monetária.

A falta mais grave é de alimentos, combustíveis e medicamentos: o país caribenho importa 80% do que consome, mas enfrenta dificuldades orçamentárias, inflação e a dolarização parcial da economia.

Nos últimos meses, muitos dos produtos que ainda estão incluídos no cartão de racionamento, como arroz, café e óleo, foram distribuídos de forma irregular ou em quantidades reduzidas. As longas filas em volta dos armazéns que entregam os produtos subsidiados são permanentes.

Uma cuia de arroz sobre uma mesa que evoca a bandeira de Cuba
Dificuldades econômicas crônicas de Cuba geraram uma grave crise alimentar que já vem desde antes da pandemiaFoto: PantherMedia/IMAGO

Recentemente, o governo reconheceu que não podia assegurar o fornecimento de pão – alimento básico da dieta cubana – através do cartão de racionamento em fevereiro e março, devido a problemas de abastecimento de farinha. Enquanto o pão subsidiado custa atualmente um peso cubano (R$ 0,21), numa padaria privada um pacote de cinco pães pode chegar a 350 pesos cubanos.

Segundo o Food Monitor Program, a maioria das famílias cubanas compromete pelo menos 90% de sua renda com alimentos.

Uma pesquisa do Observatório Cubano de Direitos Humanos (OCDH) publicada em setembro de 2023 apontava que 88% dos cubanos viviam em extrema pobreza, destacando a crise de alimentos e a inflação como os problemas que mais impactaram as famílias.

ra/av (Lusa, EFE, DW)